Traduzido por Marcelo Jacques de Moraes em conjunto com alunos numa disciplina da pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ.
A vista expande o infinito
Me lança à embocadura do mundo
Imparcial entre Vega e o ácaro
De tão longe de tão perto
Reconhece as coisas
gnosias de mundo
Os olhos se habituam à luz
Ao olhar falta o tato
Eu não vou crer se não tocar
Aproxima-te
O gosto da boca é para amar
Isto é teu corpo
O fruto bem na boca
Ingere a terra
Crer é crer ouvir
e ouvir-se ouvir
Pelo audito interiorizo o inaudito
O som pode virar sentido
E a voz ressoar a de não ser ninguém
voz sem voz
O sentir enseja aroma
O que odora se lacera
entre os dois confins
Inferno e Paraíso que cingem nosso purgatório
O fétido e o suave
a chuva de rosas e o pútrido
sente-se
O bom e o mau cheiro
Sensações dos cinco?
E o comum até a sensibilidade...
Não fosse o coração sensível
nenhum dos cinco se abriria à vida
mais invasiva que a sensação
Cega surda em dor a an-
estesia nos cerca
é o envilecimento
dizia o coração desnudado
que nos priva da criação
Michel Deguy (1930), poema publicado em La vie subite (Galilée, 2016).
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